sábado, 10 de abril de 2010

1º ano/Imagem crítica da Filosofia

Primeiras Palavras

Inventores da palavra “filosofia”, os gregos não se teriam enganado. Se é preciso pensar bem é para viver melhor. Considerando o vício como desconhecimento da virtude, o platonismo fundou no pensamento ocidental a idéia segundo a qual “ninguém age mal voluntariamente” – formulação a que corresponde “ninguém erra por deliberação”. Se a medicina se encarregou de curar o corpo, à filosofia coube ser o consolo da alma aflita: “não é necessário fingir filosofar” dizia Epicuro, “mas efetivamente fazê-lo, pois temos interesse não em aparentar boa saúde, mas (em) de fato tê-la. (...) Nunca é cedo, tampouco tarde demais para cuidar da saúde da alma”. Nietzsche também dizia serem os artistas e os filósofos os médicos da civilização. A filosofia forma almas fortes pelo exercício da análise de si e do pensamento autônomo.
Epicuro considerava a filosofia não como instrução ou aquisição passiva de informações, mas uma atividade que, através de um generoso sentimento, a philia (amizade), ultrapassa a dimensão da sabedoria contemplativa e se expande em amor à humanidade. O logos filosófico traz a verdade iluminadora: é o discurso que se faz pharmakon, remédio que dissolve crenças e superstições – fonte do medo e dos males da alma. Seu objetivo “não é instruir os homens, mas tranquiliza-los”.
O pharmakon filosófico é o discurso terapêutico que busca a autarquia da alma e do corpo, o domínio da dor do corpo e da alma pela filosofia: “nunca se adie o filosofar quando se é jovem, nem (se) canse de fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora do filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz”. A noção de felicidade, por mais indeterminada que seja, é objeto da filosofia e da medicina. Para os gregos, a ciência era a busca da justa vida e do bem-viver. (Olgária Matos, Filosofia – A Polifonia da Razão, São Pulo, Scipione, 1997, pp.7-8).

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