Suplício
Capítulo I – O Corpo dos Condenados
“(...) No entanto, um fato é certo: em algumas dezenas de anos, desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal” p.12
“(...)a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro; a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens. Por essa razão, a justiça não mais assume publicamente a parte da violência que está ligada a seu exercício” p.13.
“(...)Dir-se-á: a prisão, a reclusão, os trabalhos forçados, a servidão de forçados, a interdição de domicílio, a deportação – que parte tão importante tiveram nos sistemas penais modernos – são penas ‘físicas’: com exceção da multa, se referem diretamente ao corpo. Mas a relação castigo-corpo não é idêntica ao que ela era nos suplícios. O corpo encontra-se aí em posição de instrumento ou de intermediário; qualquer intervenção sobre ele pelo enclausuramento, pelo trabalho obrigatório visa privar o indivíduo de sua liberdade considerada ao mesmo tempo como um direito e como um bem. Segundo essa penalidade, o corpo é colocado num sistema de coação e de privação, de obrigações e de interdições” p.14
“(...) uma execução que atinja a vida mais do que o corpo” p.15 MICHEL FOUCAULT.Vigiar e Punir.Petrópolis, Editora Vozes, 1997,p.12-15
BIOPODER – Controle e gestão do corpo, do tempo e do espaço e o sequestro das forças e da vida dos homens.
Na leitura foucaultiana, a disciplina é uma técnica que fabrica indivíduos úteis.
“(...) No espaço urbano que a medicina deve purificar ele (o hospital) é uma mancha sombria. E para a economia um peso inerte, já que dá uma assistência que nunca permite a diminuição da pobreza mas, no máximo, a sobrevivência de certos pobres e, assim, o crescimento de seu número, o prolongamento de suas doenças, a consolidação de sua má saúde, com todos os efeitos de contágio que dele podem resultar” MICHEL FOUCAULT, A Política da Saúde no século XVIII, in Microfísica do Poder, Rio de Janeiro, Edições Graal, 1995, p.203
“(...) A sociedade sem delinquência foi um sonho do século XVIII que depois acabou. A Delinquência era por demais útil para que se pudesse sonhar com algo tão tolo e perigoso como uma sociedade sem delinqüência. Sem delinqüência não há polícia. O que torna a presença policial, o controle policial tolerável pela população se não o medo do delinqüente? Você fala de um ganho prodigioso. Esta instituição tão recente e tão pesada que é a polícia não se justifica senão por isto. Aceitamos entre nós esta gente de uniforme, armada enquanto nós não temos o direito de o estar, que nos pede documentos, que vem rondar nossas portas. Como isso seria aceitável se não houvesse os delinqüentes? Ou se não houvesse, todos os dias nos jornais, artigos onde se conta o quão numerosos e perigosos são os delinqüentes?”
MICHEL FOUCAULT. Sobre a Prisão in Op.cit., p.351.